domingo, 13 de junho de 2010

O existencialismo é um humanismo - SARTRE

O existencialismo é um humanismo (trechos)
J.-P. Sartre
(O existencialismo é um Humanismo. Lisboa, Presença, s/d/, p. 241)

O existencialista, pelo contrário, pensa que é muito incomodativo que Deus não exista, porque desaparece com ele toda a possibilidade de achar valores num céu inteligível; não pode existir já o bem a priori, visto não haver já uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo; não está escrito em parte alguma que o bem existe, que é preciso ser honesto, que não devemos mentir, já que precisamente estamos agora num plano em que há somente homens. Dostoievsky escreveu: "Se Deus não existisse, tudo seria permitido". Aí se situa o ponto de partida do existencialismo.
Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue.
Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.
Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e, no entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo quanto fizer. (...)
O existencialista não pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a terra, e que o há de orientar; Porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal como lhe aprouver. Pensa, portanto que o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a cada instante a inventar o homem. Disse Ponge num belo artigo: "O homem é o futuro do homem".
É perfeitamente exato. Somente se, se entende por isso que tal futuro está inscrito no céu, que Deus o vê, nesse caso é um erro, até porque nem isso seria um futuro. Mas se, se entender por isso que, seja qual for o homem, tem um futuro virgem que o espera, então essa frase está certa. Mas em tal caso o homem está desamparado.
O quietismo é a atitude das pessoas que dizem: os outros podem fazer aquilo eu não posso fazer. A doutrina que vos apresento é justamente a oposta ao quietismo visto que ela declara: só há realidade na ação; e vai aliás, mais longe, visto que acrescenta: o homem não é senão o seu projeto, só existe na medida em que se é portanto nada mais do que o conjunto dos seus atos, nada mais do que a sua vida.
De acordo com isto podemos compreender por que a nossa doutrina causa horror a um certo número de pessoas. Porque muitas vezes não têm senão uma única de suportar a sua miséria, isto é, pensar "as circunstâncias foram contra mim, eu muito mais do que aquilo que fui; é certo que não tive um grande amor, ou uma grande amizade, mas foi porque não encontrei um homem ou uma mulher que fossem dignos disso, não escrevi livros muito bons, mas foi porque não tive tempo livre para o fazer; não tive filhos a quem me dedicasse, mas foi porque não encontrei o homem com quem pudesse realizar a minha vida. Permaneceram, portanto, em mim e inteiramente viáveis, inúmeras disposições, inclinações, possibilidades que me dão um valor que da simples série dos meus atos se não pode deduzir".
Ora, na realidade, para o existencialista não há amor diferente daquele que se constrói; não há possibilidade de amor senão a que se manifesta no amor, não há gênio senão o que se exprime nas obras de arte; o gênio de Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série das suas tragédias, e fora disso não há nada; por que atribuir a Racine a possibilidade de escrever uma nova tragédia, já que precisamente ele a não escreveu? Um homem embrenha-se na sua vida, desenha o seu retrato, e para lá desse retrato não há nada.
Que significa aqui o fato de a existência preceder a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo, e que só depois se define.
O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza, visto que não há Deus para a conceber.
O homem é, não só como ele se concebe, mas como ele quer ser; como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência, o homem não é mais do que o que ele faz de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existencialismo.
É também a isto que chamamos subjetividade e pelo que somos censurados sob o mesmo nome. Mas que queremos dizer com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Pois o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, se lança para um futuro, e que é consciente de se projetar no futuro.
O homem é, antes de mais nada, um projeto vivido subjetivamente, ao invés de ser um creme, qualquer coisa podre, ou uma couve-flor; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível, e o homem será antes de tudo o que ele houver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Pois o que vulgarmente entendemos por querer é uma decisão consciente que, para a maior parte de nós, é posterior ao que alguém fez de si mesmo. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a manifestação duma escolha mais original, mais espontânea daquilo que se chama vontade.
Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem de posse do que ele é e atribuir-lhe a responsabilidade total por sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável por sua estrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. Há dois sentidos para a palavra subjetivismo, e é com isso que jogam nossos adversários. Subjetivismo quer dizer, de um lado, escolha do sujeito individual por si próprio; e, por outro, impossibilidade do homem em superar a subjetividade humana. O segundo é que é o sentido profundo do existencialismo.
Quando dizemos que o homem se escolhe, queremos dizer que cada um de nós se escolhe; mas, com isso, também queremos dizer que, ao se escolher, ele escolhe todos os homens.
Com efeito, não existe um ato nosso que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser.
Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, pois nunca podemos escolher o mal; o que escolhemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos.
Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve a humanidade.
http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/existencialismohumanismosartre.html

4 comentários:

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  2. Obs:arrumei certos erros que tinham na escrita.Por favor,troque o comentario anterior por este e apague claro essa observaçao:).Agradeço desde ja sua atenção professor...Grata,Thaisy Werner.

    Primeiramente,achei o texo bem interessante pois ele busca mostrar a visão do homem,de suas ações e de seu futuro por meio do existencialismo.
    Algo que pude notar é que,cada conceito proposto no texto vai se interligando entre si e formulando uma ideia geral a cerca do assunto.

    De início,o existencialismo busca deixar claro que "Se Deus não existisse,tudo seria permitido".Ao ler o restante do texto o que se percebe é que,como não há a presença de Deus,o homem não encontra uma possibilidade,uma figura ou algo em quem se apegar para dar desculpas frente às suas ações,não tendo assim como justificá-las.Além do mais,aqui o homem acaba fazendo aquilo que quer fazer.Dessa forma,o que o existencialismo afirma é que este homem é condenado e livre.O fato de ser condenado é porque não criou a si próprio;e o fato de ser livre é porque ao ser lançado ao mundo se torna agora totalmente responsável por tudo que fizer e/ou vier à fazer.Assim,como havia dito,aqui não há a presença de Deus,então o homem acaba não encontrando desculpas para esses seus atos,concluindo assim que ele é o único responsável mesmo pelo rumos que suas atitudes irão tomar.
    No decorrer do texto,o existencialismo também busca explicar a conexão entre os conceitos de existência e essência dizendo que,a existência precede a essência.O que eu pude entender a respeito disso é que,primeiro o homem existe,surge no mundo e então só após,este se define como relamente é.Além do mais,vi que para o existancialismo o homem não só é aquilo como lhe concebeu mas é também aquilo que ele quer ser.Dessa maneira,pode-se concluir que,antes de mais nada o homem realmente existe e então a partir daí,é que ele irá se projetar num futuro,contruíndo-o de acordo com seus atos,de acordo com aquilo que ele deseja ser e quer ser mas,sendo sempre o principal responsável por todas as atitudes que tomar.
    Enfim,o que eu pude entender de tudo isso é que de fato o existencialismo busca mostra a imagem do homem como sendo o principio para um futuro que ate então ainda é virgem,desconhecido.Assim,a partir do momento que este encontra-se "vivo" e em açã,ele irá se tornar o principal responsável por suas atitudes e dessa forma,o principal responsável pela construção desse futuro,buscando fazê-lo da maneira que lhe melhor convém e da qual seja mais proveitosa à ele.Assim,segundo o existencialismo o homem,sem qualquer auxílio/ajuda está sujeito a inventar o homem a cada instante,ou seja,como se estivesse em constante mudança e buscando construir o furuto virgem que ainda o espera.

    Então professor,é isso o que eu entendi um pouco a respeito do texto.Espero que o professor consiga entender o modo como coloquei as ideias acima:).Muito obrigada!


    Aluna:Thaysi Werner de Carvalho Sidooski n°:45
    Série:3° ano E.M.

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  3. Para o existencialismo, a não existência de Deus é incomodativo porque desaparece todas as possibilidadesde se achar conceitos, verdades num mundo/pensamento imaginário (não real). Ao viver num mundo só de homens, sem Deus, muitas das leis e deveres, que antes já vinham implantadas no consciente da população, perdem o seu valor, pois o mundo no qual elas se aplicariam já não existe.
    " Se Deus não existisse, tudo seria permitido", isso quer dizer que o homem chega a sua liberdade total, mas toda essa liberdade acaba por deixá-lo sóno mundo, abandonado, sem nada em que se basear para seguir adiante. Pois tudo o que fazemos e deixamos de fazer é baseadoem valores, em conceitos que nos ajudam a descobrir quem somos, e o que devemos fazer, são conceitos que nos mostrarão a nossa real essência.
    E se não temos nada em se basear, não podemos culpar ninguém a não ser nós mesmos, pois já não esxiste mais Deus, já não existe mais o inteligível, por consequencia já não existe uma regra a seguir. É por isso, portanto, que o texto fala que o homem está condenado a ser livre, ele não se cria mas é lançado ao mundo sem dono e, logo, responsável por qualquer ato que fizer.
    Quando o texto fala sobre futuro, fica claro que este é uma coisa misteriosa, algo novo e puro que nos espera. Neste caso é impossível que alguém veja o futuro para o homem, pois ele é o livre, só e desamparado.
    A quetão do amor para o existencialista, não é muito diferente do que já foi apresentado nas linhas acima, para ele o amor é construído. O amor não é nada mais do que o própio amor. Aliás, para o existencialismo nada nem ninguém é além do que realmente é, não existe nada fora/além dele.
    " A existência precede a essência". Pelo que pude entender dessa frase, para o existencialista o homem primeiro existe para que depois ele possa se definir, pois não há mais nenhum Deus para definí-lo/concebê-lo antes do ser surgimento. Logo conclui-se que se um ser não é digno de definição ele não "existe", não é nada. Percebe-se que um dos princípios do existencialismo é que o homem é o que ele quer ser, já que ele mesmo se concebe, ou seja, ele nunca é mais do que aquilo que ele fez na sua existência.
    O que tudo isso parece querer dizer é que o homem se lança para um futuro novo, desconhecido, porém ele é consciente, ele é capaz de se projetar, se ver nesse futuro. Sendo assis, vê-se que o hpomem não é só aquilo que ele aquer ser, mas aquilo que ele projetou ser.
    A partir de tudo isso o que o existencialismo quer é atribuir ao homem a responsabilidade de sua existência, mas não a existênciaindividual, ele quer atribuir-lhe a existência de todos os homens. Pois quando nos escolhemos, escolhemos todos, quando nos projetamos, projetamos todos, quando criamos uma imagem acaba-se sempre criando outra e outra, afim de no final ter-se criado a imagem de todos, como se fosse seguir um padrão. Isso acontece porque quando se escolhe algo nã se escolhe a aparência,se escolhe o valor; se é bom ou ruim, mas não pode se esquecer que tudo que é bom para um é bom para os outros também.
    Quando cria-se uma imagem, portanto, ela é válida para todos pois não se trata de responsabilidade pessoal, se trata de humanidade.

    Aluna: Mariana F. Dias n° 32 - 3° ano E.M.

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  4. O Existencialismo afirma que Deus não pode existir, e que a partir daí o homem pode fazer o que quer, pois ele é livre e não há imposição para essa liberdade. Sendo também dessa idéia de que Deus não existe, não há em lugar algum, afirmando que exista também o bem e que se deve o praticar, por que , como já dito, o homem é livre para pensar e agir como queira. Tanto é que, é ele que tem de se fazer existir, de montar uma imagem e saber que será responsável por tudo que fizer, sendo também, que ele não poderá encontrar auxilio “divino” para justificar seus atos e decisões.
    O Existencialismo também defende que cada um cria o futuro de cada homem, por que não há alguém/divindade que o faça, pois o mesmo não existe. Dessa forma a doutrina do existencialismo, quer que as pessoas corram atrás de novas experiências criando o futuro com as próprias ‘mãos’ (pois o homem está condenado a ser livre).
    Porém num primeiro momento desse caminho, o homem só existe, e a partir do instante que ele cria seu futuro é que começa a se definir como homem e realmente ser alguém.
    Resumindo, o existencialismo defende que o homem não depende de um Deus para sua existência (mesmo que essa existência acabe sendo solitária!) e que é ele que assume as ‘rédeas’ da sua vida e futuro, tendo como peso maior toda a responsabilidade por seu atos.

    Aluna: Angela Maria de Borba / Nº: 03

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