quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cultura Popular

Partindo de uma acepção de cultura no sentido mais amplo possível - ou seja, cultura não só como o produto ou construção cultural, mas também as relações e as diversas maneiras de pensar realidade – chegaremos a uma primeira conclusão inequívoca: toda cultura é , por definição, popular.
Expliquemos melhor. Popular, segundo o Aurélio, guarda cinco possíveis variantes, sem que , entretanto, nenhuma delas lhe esgote o conteúdo em definitivo. Vejamos:
Popular
1- Do, ou próprio do povo;
2- Feito para o povo
3- Agradável ao povo, que tem as simpatias dele;
4- Democrático;
5- Vulgar, trivial, ordinário, plebeu.
Infere-se que o adjetivo popular, quando adotado em parceria com o vocábulo cultura restringe, aparentemente, o teor desta, toldando-lhe a própria abordagem conceitual. Em outras palavras, podemos situar cultura popular apenas como uma cultura relacionada ao povo. A palavra povo , por sua vez, possui diversas implicações ideológicas. Pode-se compreender povo como nação e até mesmo ,como querem alguns, como sinônimo de plebe ou simplesmente multidão.
Ora, o mais usual, quando nos dirigimos à expressão cultura popular, é um olhar tencionando desprestigia-la, isto é, torná-la mais próxima de cultura proveniente das classes menos favorecidas ( não que estas sejam desmerecedoras, apenas não é o caso ).
Essa observação, porém, é uma das muitas falácias próprias ao terreno movediço de quem lida com arte no seu cotidiano. Separar uma cultura popular de uma lendária cultura de elite é seccionar algo naturalmente atomizado.

Não existe cultura impopular, ou pertencente a uma única casta ou estamento. Por mais que se equipare o termo popular ao seu viés plebeu ou vulgar, não subsiste cultura sem adesão de uma parcela significativa do meio social. Isto porque o próprio pensar é impregnado de fatores e substâncias histórico-sociais, as quais operam na formação cultural e implicam aceitação tácita de costumes e valores que permeiam as populações politicamente organizadas .
Há, em qualquer criação cultural, algo de subjacente que lhe delineia as formas e lhe estabelece “limites”.O ato de criação cultural, por conseguinte, não está livre de intercâmbios e trocas, pois não se isola o criador de influências externas. O todo se sobrepõe à parte.
Assim, a cultura pode tomar esta ou aquela direção , mas sempre deverá seu respaldo a uma fatia indefinida do todo social pois terá sempre origem nos “ andrajos ” sociológicos de um povo.
A cultura popular , em verdade, mistura-se com a própria noção inesgotável de identidade nacional.
O teatro, por exemplo, dentro da atual conjuntura brasileira, encontra-se cada vez menos acessível a maioria da população. Podemos dizer que trata-se de cultura menos popular por este motivo?
Não, se entendermos o povo como os entes nacionais e a cultura como algo diverso do seu veículo.
A cultura sempre privilegia a democracia, pode-se configurar uma nação a partir dos vínculos culturais que untam os diversos segmentos de sua pirâmide social. Os veículos, não obstante, podem ser mais ou menos populares, de acordo com a dimensão que atingem em relação ao meio populacional.
Um objeto de arte, em si mesmo, como produto cultural, tanto pode servir a esta ou aquela camada da população. Se exposto graciosamente, temos uma repercussão. Se em exposição num museu, posto que se cobre um ingresso, temos uma menor acessibilidade. Mudou o veículo, o intermediário. Porém, não se perde , na alteração de um veículo para um outro, a sua essência popular. Afinal, ocorreu a intenção de se exteriorizar uma idéia ou conteúdo ideológico, determinado por uma demanda difusa, independentemente do alcance.
Quando se pensa cultura, não se pensa em se formular algo inatingível pois do contrário não há veículo disponível. Os veículos, entendidos como os meios ou instrumentos adequados ao livre trânsito cultural, são nutridos a partir de um planejamento segmentado. Podem portanto, se dar ao luxo de serem mais ou menos populares, ou até elitizados.
A cultura, por seu turno, traduz sempre algo que conecta criador e criatura. Logo, um poeta escreve um verso assim como um legislador formula uma lei. No intuito de exteriorizar, verbalizar, desenhar traços culturais, cujo matiz ideológico pode se aproximar mais deste ou daquele segmento pensante do todo social. Sem nunca , entretanto, despojar-se completamente de vínculos viscerais de afinidade com o aglomerado populacional no qual ( ou para o qual ) é forjado. Apenas para frisar, em cultura, há sempre o braço do grupo social maior orientando as mãos do criador.
O principal veículo de um escritor, por exemplo, é a palavra. A linguagem portanto determina se aquele conteúdo vai ser mais ou menos difundido, mas uma vez concebido em determinado idioma, por um autor desta ou daquela nacionalidade, o texto se incorpora definitivamente ao patrimônio cultural daquele conjunto de cidadãos.
Logo, chegamos a duas conclusões basilares. Um estado para fomentar, de modo positivo, a sua veia artística popular, não há de se preocupar com a criação em si, mas primeiramente com os veículos através dos quais esta ou aquela manifestação é absorvida. Assim, a cultura gerada no seio deste ou daquele estamento deverá atingir os recantos mais impensáveis, culturalmente falando, desde que se abra atalhos e fendas por onde esta possa trilhar com segurança. Daí, a importância de estruturação e regulação de veículos, para que todos eles assumam a sua postura participativa e o seu comprometimento com a divulgação cultural abrangente.
Por outro lado, o pleonasmo cultura popular nos serve de anteparo no caminho de uma cultura mais resguardada de influências vis e de dominação. Auxilia-nos nas veredas sinuosas de um mosaico cultural inerte ou não engajado. E por fim, desperta a consciência dos artistas, políticos, líderes e formadores de opinião para aquilo que é o próprio sustentáculo de uma nação: a sua diversidade cultural.

Autor: Marcos André Carvalho Lins · Recife, PE 18/4/2007 ·

Um comentário:

  1. Bem, falar sobre cultura é muito dificil mesmo fazendo parte dela.
    Cultura, em foco a popular, é o nosso conjunto de habitos e costumes, que de acordo com o texto acima, esta virando um produto, o qual a midia divulga e desmerece, como se fosse algo inferior.
    Porém cultura é mais que isso, é livre para receber influencias, mas mesmo assim tem a base no povo.
    Na diversidade se encontra o brilho da cultura , e a inspiração que ela gera em artistas, que independentemente do meio utilizado passa aos outros os traços culturais que ele sofreu.
    Danyella Santos 1°D

    ResponderExcluir