quarta-feira, 13 de abril de 2011

Heráclito X Parmênides

Heráclito defende a ideia de que “tudo flui” (mobilistas), com sua famosa frase: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”. Logo, completa: “e nós também não somos mais os mesmos”. Essa citação sintetiza exatamente a ideia de realidade em fluxo, pois ao nos banharmos na água, modificamos esta; e a água do rio, nos modifica, ambos tornando-se diferentes. O rio simboliza o movimento encontrado em todas as coisas, inclusive, no caso de acréscimo, em nós.

O pensamento de Heráclito se baseia também no conflito dos opostos, os quais não se anulam, mas geram algo positivo, uma mudança, causando o movimento. Se analisarmos na prática, com explicações científicas notamos que esse pensamento é realmente aplicável. Um ser pode estar parado, porém seus órgãos se movimentam, suas células interagem entre si, assim como, de maneira mais reduzida, seus átomos também estão em movimento e permanecem estáveis pelo “conflito dos opostos”.

Parmênides defende a ideia de que “tudo permanece” (monistas), pregando uma doutrina da existência da realidade única. “O ser é e o não ser, não é”, tornando o famoso vir-a-ser (Heráclito), resultado do conflito dos opostos, algo inaceitável, sem princípio. Parmênides coloca que o que é captado por nossos sentidos é aparência, ilusão; só a razão, o pensamento é aceitável e real. A realidade, de acordo com essa idéia, é imutável; excluindo assim os conceitos de mudança e movimento.

Mas percebemos que tudo está em movimento e a própria Ciência já provou isso por inúmeros exemplos, refutando o argumento de que o movimento é uma ilusão dos sentidos. Como o “não ser” não existe, se eu não ser algo me faz ser alguma coisa?

Segundo Parmênides o “não ser, não é”, era impossível e indizível. Platão pensava que a simples afirmação entrava em contradição, pois o não ser significava ou apontava a algo. Para resolver o problema, Platão percebeu que era necessário que o não ser seja algo de alguma maneira; por isso disse: “Far-te-ei, pois, um pedido ainda mais veemente. (...) De não me tomares por um parricida. (...) [Pois] para defender-nos, teremos de necessariamente discutir a tese de nosso pai Parmênides e demonstrar, pela força de nossos argumentos que, em certo sentido, o não-ser é; e que, por sua vez, o ser, de certa forma, não é” (Sofista, 241 d).

Zenão de Eléia, um dos devotados discípulos de Parmênides, criou paradoxos refutando o mobilismo. Um dos mais conhecidos é o paradoxo de “Aquiles e a tartaruga”, o qual Zenão considera a questão do movimento relativo de dois corpos. O argumento que ele utiliza é que “Aquiles nunca poderá alcançar a tartaruga, porque na altura em que atinge o ponto donde a tartaruga partiu, ela ter-se-á deslocado para outro ponto; na altura em que alcança esse segundo ponto, ela ter-se-á deslocado de novo; e assim sucessivamente, até o infinito”, pois o movimento é considerado constante.

Concluímos que tanto as idéias de Parmênides, quanto as de Heráclito se enquadram a realidade, completando-se. Há situações em que o movimento é inaceitável (o paradoxo de “Aquiles e a tartaruga” serve como exemplo), a realidade não consiste em mudança ou movimento. Contudo há situações que não podem ser aceitas com a simples explicação de que o movimento é uma ilusão dos sentidos, pois é provado pela razão (não pela opinião, que Parmênides desconsidera) que só existem a partir dessa mudança, do conflito dos opostos, do vir-a-ser. Como o meio só se estabiliza a partir de mudanças, o conceito de que tudo permanece torna-se inviável.

Um exemplo da união das duas idéias é o da morte. Uma pessoa morre e permanece em mudança, transformando-se constantemente (mobilistas), mas seu estado permanece, morta (monistas).

Além disso, as discussões e conclusões adquiridas a partir da divulgação das idéias desses filósofos pré-socráticos se originam do conflito de opostos entre Parmênides e Heráclito, seus conceitos ainda permanecem, mas geram a mudança de nossas concepções atuais.

Aluna: Louíse Paola Nichilatti

3 comentários:

  1. heráclito escreveu sobre a lei que rege a evolução do cosmo. parmênides refletiu sobre sua totalidade. pra mim, nunca foram teses distintas, mas que se complementavam. tanto é, que até hj a linha da filosofia ocidental ainda se encontram nessa discussão. na verdade, ambas são fundamentos do esoterismo, e os dois eram auto-iniciados.

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